27 janeiro, 2009

Não contando alguns exercícios de colegial, de que meu irmão e alguns colegas eram os únicos leitores, meu primeiro conto foi escrito muito tempo atrás, pouco antes de meu casamento. (Tenho  mais de trinta anos de casado...) Esse conto ainda dormiu na gaveta por uma dezena de anos, mais ou menos, até que resolvi inscrevê-lo em um concurso nacional promovido pelo Desenbanco e pela Empresa Gráfica da Bahia. Dei-lhe o nome de Ajuda. E ele acabou premiado.  Depois disso, passados mais alguns anos, voltei a escrever ficcção. Já escrevi cerca de quarenta histórias e tenho outras esboçadas. Elas guardam relação umas com as outras e em grande medida isso se deve ao fato de que todas têm a ver com o mesmo sentimento do mundo: um sentimento que me parece impregnar a paisagem do Recôncavo e da Bahia de Todos os Santos . Cachoeira, minha cidade natal, é protagonista mais ou menos oculta de todas essas histórias. Não completei o conjunto que pretendo formar assim. Mas no ano passado separei dez dessas histórias que me pareciam dignas de destacar com um arranjo especial. Foi quando tive notícia do concurso literário da Academia de Letras da Bahia e da Braskem. Mas o edital prescrevia o limite de sete contos. No meu arranjo, o primeiro seria justamente o Ajuda. Este, porém, já fora premiado e editado, não podia ser aproveitado para o concurso. Além dele suprimi logo um outro, e em seguida mais um. Fiquei com o problema de recompor o arranjo dentro desses limites, dar-lhe uma unidade nova. Não foi um problema fácil de resolver, mesmo por que no conjunto novo, a que dei o nome de Sete Portas, o primeiro (o que passou a ser o primeiro) vinha a ser, a princípio, uma continuação do conto Ajuda.  Trabalhei para torná-lo mais independente... É claro que a recomposição me obrigou a fazer algumas intervenções nas seis outras "portas" do pequeno edifício literário. Mas creio que tive sucesso, pois o Sete Portas foi premiado.  Isso me alegrou muito. Na verdade, nunca tive tempo de dedicar-me pra valer à criação literária. Tenho onze livros publicados; na maioria, ensaios. Apenas um é uma obra literária de pura invenção: um livro de cordel com três poemas deste gênero popular. Também traduzo poesia -  o que exige, é claro, alguma perícia literária e criatividade (para acompanhar a do original). Publiquei uma tradução da tragédia Rei Édipo de Sófocles, infelizmente mal editada (pretendo voltar a ela, mais tarde); também traduzi dois hinos homéricos; a tradução do Hino a Hermes já foi dada a público e a do Hino a Deméter breve o será. Preparo a tradução dos Hinos Órficos e dos Hinos de Calímaco. Também projeto traduzir a Argonáutica de Apolônio de Rodes e o Édipo em Colono de Sófocles. Já traduzi um trecho da Eneida de Virgílio e outros poemas latinos (como exercício). Mas minhas atividades de antropólogo e professor me tomam muito tempo. Depois de me aposentar é que me dedicarei mesmo à criação literária. Por enquanto, escrevo contos e poemas nas horas vagas. De poemas, tenho dois livros prontos na gaveta (digo, no disco rígido do computador). Também tenho aí um romance quase pronto. Ficção e poesia me alegram muito. Na verdade, é o que mais gosto de fazer.  

26 janeiro, 2009

Há muito, muito tempo, nada escrevo neste blog. Efeito de uma grande carga de trabalho, de muitas coisas diferentes para fazer ao mesmo tempo. Assumi o posto de Pró-Reitor de Extensão da UFBA durante dois anos e continuei dando aulas, fazendo pesquisas, orientando alunos, escrevendo artigos e livros. A experiência na PROEXT foi boa, aprendi bastante.  Implementei alguns bons projetos (como o UFBA ECOLÓGICA e o Ciclo de Seminários Lyon-Salvador, por exemplo); resolvi alguns problemas crônicos da extensão em minha universidade e multipliquei o número de ações extensionistas. Mas outros projetos que concebi e considero muito importantes não consegui pôr em prática. Pesaram, neste caso, a tremenda burocracia da Universidade e a falta de recursos. Desta frustração, porém, tirei uma inspiração muito boa. Há coisa de duas semanas, quase, recebi aqui a visita de um amigo, o filósofo norte-americano Floyd Merrel, que vem todo ano a Salvador. Conquistei o apoio deste amigo para um projeto novo a que pretendo dedicar-me adiante e que resulta de uma reflexão sobre as dificuldades enfrentadas, da convicção de que elas não podem tornar-se um bloqueio permanente. Antes de falar disso, um parênteses: uma recente entrevista do nosso Reitor Naomar Almeida no Jornal A Tarde dá bem a idéia dos óbices em questão. Como Naomar mostrou, na verdade a autonomia universitária é ainda um sonho e a esta falta de autonomia concreta soma-se o imenso peso dos entraves burocráticos que tolhem a instituição, tanto nas suas relações com o MEC e outras instâncias de Governo quanto no interior da própria máquina universitária. Mas passo a falar de modo breve do projeto que apresentei a Floyd em nossa conversa. Trata-se simplesmente de fazer um grande banco de projetos onde possam ser depositadas idéias que (ainda) não puderam ser concretizadas, nas circunstâncias em que foram concebidas, mas podem ser viáveis e úteis em outros contextos ou em outros momentos. A minha tentativa de efetivar o reconhecimento (com titulação) pela universidade de Mestres de Artes e Ofícios Populares ainda não vingou; o projeto foi encaminhado ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFBA mas aguarda apreciação e sabe Deus quando isso acontecerá, ou se acontecerá. Porém já tive notícia de uma outra universidade interessada no assunto. Não hesitarei em encaminhar-lhe este projeto. Tenho alguns outros que podem ser implementados em diferentes lugares e conheço muitas pessoas com idéias interessantes que ainda não conseguiram pôr em prática. O Banco que imagino  terá colaboradores de diferentes partes do mundo (já aliciei dois nos EEUA e tenho certeza do apoio de muita gente boa na Europa, por exemplo.  Quem estiver interessado nessa iniciativa, por favor, entre em contacto comigo. Mais tarde explicarei melhor neste espaço como a estou pensando. Aviso, poré, que só poderei dedicar-me a ela mais efetivamente daqui a dois anos, pois até lá tenho projetos mais urgentes...